“ A barrigudinha” Rio; 08:39; 28; 01; 2013. 3ªfª Eu tinha conseguido um bom bico; aliás um bico e tanto! Era uma aranha enorme, já quase seca; por mim, inclusive; a casa estava tranquila, em completo silêncio verdadeiramente, um e outro estalar da geladeira, uma gota de água de hora em hora na pia e eu chupava; chupava, dormia e chupava. Minha barriga estava enorme. O Orlando já havia me cruzado e eu só esperava os nenéns saírem em abundancia quando minha vagina se alargasse; pum, num verdadeiro estouro... Se bem que na última que eu vi, saíram muitos filhotinhos sem nenhum barulho a não ser um prprpprisisisisfufufucuchchhchc... enquanto a mamãe dormia... Acordou magrinha e cercada de sua obra sedentária. De vez em quando, eu sonhava com a minha presa em vida. Ela era uma grande aranha, do tipo aranha de grama, amarronzada e um pouco peluda. Estava ficando velha, já havia procriado com certeza e vagava na beirada da calçada; lá fora; quando uma vespa, daquelas de bunda comprida, sabe como são? Amarelas e pretas; amarelas e pretas; venenosíssimas e terríveis! Elas sabem injetar o veneno de tal forma que a vítima dorme um sono quase que instantâneo e nem luta contra ser arrastada pela grama, pelo cimento e depois parede acima... Foi nessa fase alias que uma colega acordou meio que dopada quando a vespa errou no passe e a derrubou; de uma altura de um metro e meio! Cretina. A coitada da caranguejeira fez póf na calçada e ainda houve uns estralares de unhas e joelhos, que também escutei. Mas sim! A aranha acordou-se meio tonta e vislumbrou o gramado a distância. Percebeu imediatamente que havia sido vítima da demoníaca vespa da bunda comprida e amarela e preta. Horror dos horrores! Ainda escutou um vibrato em suas cavernas auditivas, um vibrato forte de abelha resoluta! Tentou voltar para o verde; cambaleou e sentiu uma picada forte bem no cangote! Na verdade, aquele injetamento até lhe deu forças! Sentiu-se leve, pairando sobre as próprias patas recém danificadas. Foi correndo feito um novelo e... Bateu na parede! Chorou baixinho pois percebeu que já perdera o sentido de orientação e ainda; sega, pensou rapidamente em dar um rebote contrário, certamente cairia na gram e teria alguma chance. Mas infelizmente seus esforços resultaram numa desajeitada queda de barriga para cima e aí sim, ela pode sentir o bafo da vespa bem na sua cara. A assassina, pérfida afastou-lhe as patas pelos muitos sovacos e criteriosamente aplicou-lhe uma dose medidinha na jugular. Pronto; nada mais a se ver. A amiga foi enclausurada numa bolha de barro e antes de a vespa, desgraçada! Fechar-lhe o céu, enterrou-lhe barriga a dentro um creme grosso encaroçado. As lágrimas da caranguejeira foram secando em direção a sua testa e o buraco foi se fechando, fechando, fechando... Pois bem, a minha comidinha, meu suquinho de delícias também, quase teve a mesma sorte... Mas... Aconteceu, na hora em que ela ouviu o rufar tremendo das asas duras, um bem te vi meio velhusco e que não enxergava bem, pensou que a maldita amarela e preta, amarela e preta; era uma deliciosa tanajura, popularmente conhecida como içá; conhece? Então veio o bem te vi desvairado, a aranha só viu sobra sobre sombra e um grito pavoroso de surpresa e nojo! Que o bem te vi deu! Eco eco eco! Ele gritou. Deu uma rabanada de revolução que jogou a vespa no mesmo ar, porém a um metro para lá e a aranha se enfiou quietinha embaixo de um trevo na beira da grama. Ficou lá assustada e observando as idas, putas da vida, da vespa.... Vrum pra la vurum para cá, ai! Recolheu uma pata que ficara brilhando no sol. A vespa, que não nasceu ontem, olhou, olhou e achou aquele trevo meio que escuro... Desceu... A aranha tremeu e... Vap! Cravou uma injetada bem no cu, coitada da caranguejeira! Mas a bichona velha e cabeluda, tinha sorte e depois de atravessar a folha verdolenga, o veneno só lhe espirrou no anus... Por fora. A vespa voltou à carga mas a cabeluda se safou! Enterrou-se grama abaixo e a vespa desperdiçou uma enorme carga de sedativo na vagabunda da vagem coberta que o trevo tem. Esvaziada e sem refiu a vespa puta com o bem te vi, com a porra da vida que a obriga a esse trabalho todo para parir, e pensando, com os olhos molhados e injetados de ódio purinho, que dessa vez ela perderia a ninhada... Que horror! Meus ovinhos servindo de pasto para ácaros e bactérias! E o pior! Uma vespa como eu; não pode aparecer na reunião anual das ferrantes em depressão... As outras percebem e furiosamente se divertem com a rainha descoroada. Foi assim que um jardineiro achou uma “abelha” batendo lerdamente as perninhas e tremelicando, de vez em quando, as asas duras. Mesmo desiludida, era duro aguentar o vapor ardido da piscina. Foi tudo jogado no gramado; a vespa, as folhas, uma siriririca e uma centopeia pequena; você sabia que a centopéia, na Italia se chama Mille Patte?! Sim senhoras. Pois bem; tudo foi lançado ao gramado pela rede de plástico do limpador de superfície aquática. Cá estava eu chupando minha prenda e lembrando do que ela me contou, antes dela ter uma síncope lá embaixo, na cerâmica... Minha cara coleguinha, ela me suspirava e bufava... Corri demais! Na grama ficou até uma espécie de valeta por onde eu me arrastei com força e fúria! Até que percebi que não havia mais rufar de bosta nenhuma e um tico-tico piava ao longe... Daí descansei; pude fazer o levantamento, quer dizer, o inventário da tragédia; joelho quase quebrado, unhas lascadas, luxações generalizadas e escalavrados em todos os membros. Algo não ia bem me sentia como se uma baba de menta geladinha me cobrisse as costas e ví que o fulcro dessa sensação era uma hemorroida que eu vinha tratando há muito tempo... Descobri com um baque fulminante que o veneno da pérfida me havia penetrado numa das fistulas e eu estava perdida. Que coisa inglória, minha amiga; Virei filosofa e vim; pelas beiradas a pensar na morte; o que seria a vida? Onde agora minha última ninhada? E por que o céu é azul. Andei, cada vez mais ardida no fiôfo, tropeçava as vezes mas não ligava mais e, quando te vi pensei que você era uma de minhas filhotas... Rs rs... Sei que você já é adulta, quantos anos tem? Bem, não importa, achei, depois de perder tão estranhamente para uma vespa, que qualquer coisa de 8 patas seria amiga. Assim, vim descendo pelos azulejos... Minhas unhas mesmo que lascadas ainda funcionavam entre uma brecha e outra... Até que numa reforma em que o pedreiro deixou um espaço maior eu não aguentei e me deixei cair aqui aos seu pés... Cá estou. _Disse-me a comadre... E fora o meu cu e as minhas costas, não haverá uma gota daquela maldita peçonha pois na andança minhas pernas fizeram um refluxo e as válvulas de retorno se fecharam assim que sentiram o cheiro de melado da morte! Minha cabeça e gogó também estão legais estou bem; não sinto dores, o mundo me parece um enorme algodão e um pulsar aqui no meu queixo me diz que a vida sempre foi assim: _ Uma enorme massa de nada e um estilete que fere e fode..._ desculpe comadre; mas acho que o meu estilete vai me atravessar a cabeça._ E pum! Fez a aranha grande num peido feioso que lançou muita teia ainda mole... Fez o pum duas vezes, sorriu e morreu. De sua boca saiu uma baba cristalina e de bom cheiro. Fui descendo e soltando corda até que pude ver corretamente a estranha textura de suas costas e bum bum... Pisei no chão de cerâmica, dei a volta em seu corpo e constatei que seu briôco estava realmente efervecido...uma e outra bolha espocava além de ele estar ficando com uma coloração roxa, muito incomum nesse tipo de aranha de gramado. O cheiro era de fato de menta; se bem que uma menta assim, meio que sulfurosa; não insisti na inspeção e olhei suas fortes pernas; pernas boas de fato. Com respeito fiz toc toc em sua canela; como os choferes de caminhão faziam antigamente com os pneus, sabe? Sim senhora! Coisa sólida e carvalhosa. Ia dar muito trabalho levantar aquilo tudo até o meio do vão da pia... Subi de novo, recolhendo minha renda e fiquei pensando em tudo que a vida faz. Me espreguicei e dormi. Com um dos olhos abertos, certamente... Ai que uma formiga ou colega se atrevesse a xeretar na minha boa prenda. Quando acordei, era demanhanzinha, de fato uma formiga lourinha, daquelas das anteninhas ágeis, sabe como são? Estava futricando com a pata – mor da minha comadre morta. Soltei um jato de grude corda que me fez aterrizar bem na fuça da antenosa que chiou e pulou para traz gritando para um monte de amiguinhas que eu não percebera; mas desconfiava, sim, sim, sim... Essas lourinhas não dão ponto sem nó. Hum hum! Pois bem dei uma olhada rasante pelo roda pé do box e mesmo por baixo da porta... Um batalhão de anteninhas me espicaçavam; oh violentas! Chutei com uma de minhas pernas aquela porra de formiguinha e comecei a embrulhar a comadre correndo! As louraças correram em batalhão feito uma linha que ia e voltava... a cada bufo meu uma marcha até! Eu dava uma volta e ameaçava um pulo nelas. As pretensiosas gritavam e pulavam de ré. Ai... Cansei... E quando eu penso que foi tudo para acabar desse jeito.... Uma enorme luz se fez enquanto o “dono” da casa entrava no banheiro... Eu estava dormindo encima da última pata da minha boa amiga... Agora ela estava leve e quase nem cheirava... Estava tudo tão bem... O filho da puta voltou com uma vassoura derrubou-me e à pobre comadre também, eu estava grávida e enorme de gorda na barriga; não consegui me mexer direito naquela confusão de poeira, lasca de piaça e uma lambança, que não sei de onde saiu... capaz de ter estourado minha bolsa, não sei... Fomos todos! E todas! Palha, lambança, restos de comadre, pata minha, ovo de fora e pernilongo morto com inseticida também; postos numa pá bem colorida! E jogados no gramado! Sim! No gramado outra vez. De onde tudo vem e pra onde tudo vai... Pelo jeito. Deixo esses escritos para o caso de eu morrer. Estou com uma pata torcida mas a outra funciona e veio junto, na jogada uma centopéia bem fedida que até agora está se fazendo de morta... Hum! Sei muito bem. Com carinho e abnegação;
Swely.

."tropical"..."anonimato".. "viaduto para o Humaitá"...cineminuto.com.br "baBaBaBaBa"; 16:31; 22-01-2013, 3afa.